Em pico de transmissão da covid-19 no Acre, vacinação pode perder efeito sobre a doença

Um relatório produzido pelo gabinete do deputado estadual e médico infectologista Jenilson Leite (PSB) aponta que o Acre se encontra em fase acelerada de transmissão do coronavírus e a nova variante pode anular o efeito da vacinação, como ocorreu na África. Os dados constam no levantamento que foi enviado ao governador Gladson Cameli, deputados estaduais, membros da bancada federal em Brasília e Ministério Público. As informações serão usadas em uma possível ação em que o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, seja obrigado a priorizar o Estado no quesito da vacinação levando em conta a pandemia, os casos de dengue, a cheia dos rios e a crise migratória.

Baseado em dados compilados ainda nesta semana, o estudo aponta que a situação atual dos casos da COVID-19 no Estado do Acre é de crescimento, tanto de casos novos, como no número de óbitos. Ao todo, foram avaliadas 148.107 pessoas, no qual 93.630 notificações foram descartadas e 53.455 casos foram confirmados. Atualmente, 1.022 casos encontram-se em análises, 45.648 pessoas obtiveram alta médica e, infelizmente, o número total de óbitos já ultrapassa 930 pessoas.

“Ressaltamos que vivemos uma subnotificação em função das limitações no sistema, que atende e notifica apenas os casos que procuram as unidades de saúde, não tendo braços para realização de buscas ativas fechando o cerco epidemiológico e melhorando a sensibilidade das notificações”, aponta trecho do documento assinado pelo parlamentar, destacando a distribuição de casos confirmados por município como Mâncio Lima 1.745, Rodrigues Alves 392, Cruzeiro do Sul 5.224, Porto Walter 388, Marechal Thaumaturgo 760, Tarauacá 4.241, Jordão 303, Feijó 1.873, Santa Rosa do Purus 441 , Manoel Urbano 550, Sena Madureira 3.383, Assis Brasil 1.037, Brasiléia 1.784, Epitaciolândia 981, Xapuri 2.390, Capixaba 349, Rio Branco 23.728, Bujari 567, Porto Acre 810, Senador Guiomard 742, Plácido de Castro 999, Acrelândia 768.

Segundo relatório, no Acre, as notificações sobre o vírus começaram a partir de 02 de março de 2020, seguindo com uma média de 02 notificações por dia e após a confirmação dos primeiros casos, esses em 17 de março de 2020, as notificações aumentaram de forma significativa. “Até o momento, chegamos a 53.455 casos confirmados. Os casos de COVID 19 no Estado do Acre apresentaram um aumento até a semana 21 e da semana 31 a 37 verificou-se uma redução nos casos. Entretanto, a partir da semana 38 os casos voltaram a apresentar flutuações, com aumento entre a semana 43-48. Houve um aumento considerável a partir de janeiro de 2021. Dos casos positivos, 24.288, o que equivale a 45,4%, são do sexo masculino e 29.167, equivalente a 54,6%, são do sexo feminino. Em relação à faixa etária dos casos, a maior proporção é entre 30 a 39 anos, para ambos os sexos”, pontua o estudo.

O levantamento destaca que o Acre encontra-se na fase acelerada de transmissão comunitária do vírus e explica que os casos vinham evoluindo sem complicações, necessitando apenas de isolamento por 14 dias para tratamento e recuperação, sendo poucas as intercorrências graves, porém, a situação vem se mostrando outra, o que causa grande preocupação. “Em se tratando dos óbitos, é importante observar que 70% dos casos ocorreram em pessoas acima de 60 anos. Em relação ao sexo, 60% dos óbitos ocorreram no sexo masculino e 40% no sexo feminino. Desses, 64,6% já possuíam alguma comorbidade, porém, 35,4% evoluíram para o óbito sem apresentarem comorbidades anteriores”, enfatizou.

O relatório pontua que está em estudo a nova variante do coronavírus no Estado do Acre, entretanto, pode-se observar que os casos estão ficando mais graves e evoluindo mais rápido. A variante P1 já foi registrada em 17 países. Existem mutações que afetam a maneira como o vírus se fixa nas células humanas e são 56% mais contagiosas. Há evidências de que a variante provoca contágio mais rápido, casos mais graves e com maior índice de mortes.

O documento que será encaminhado ao Ministro da Saúde reforça que a parte de assistência está escassa, uma vez que estamos vivendo uma saturação nos leitos, tanto na iniciativa privada como na pública, a capacidade de expansão está esgotada e os recursos humanos também, pois o sistema de saúde já perdeu vários profissionais da saúde para a COVID-19. As mortes (0.1/100.000/dia) abaixo, os casos (15/100.000/dia) abaixo, a taxa de casos positivos (51%) acima das médias móveis de sete dias da Covid-19 no Acre, com 266 testes feitos. Internações para SRAG (355) cerca, número nas UTIs (114) acima das médias móveis de sete dias.

CASOS DE DENGUE

O estudo da situação do Acre levou em conta também o surto de dengue no Acre é um agravo que, quase todos os anos, se apresenta como causa de adoecimento de milhares de pessoas. A situação epidemiológica da dengue no Estado e de forma geral no Brasil é apresentada, mostrando-se a introdução e a dispersão do vetor e dos diferentes sorotipos do vírus nas mais diferentes regiões e Estados. No presente momento, o Aedes aegypti, o vetor, encontra-se disseminado por praticamente todo o território nacional, bem como três dos quatro sorotipos existentes do vírus (DENV-1, DENV-2 e DENV-3).

O quadro epidemiológico tem se caracterizado como epidemias recorrentes, mais visível nos grandes centros urbanos. Um elemento novo no cenário é o crescimento da proporção de casos graves, especialmente casos da febre hemorrágica da dengue. As ações de controle existentes, além de custosas, têm se mostrado inefetivas. Com vistas a preencher as insuficiências existentes no conhecimento, alguns elementos para uma agenda de pesquisa são apresentados. “Finalmente, não devemos deixar de reconhecer que problemas como dengue têm suas raízes na forma explosiva como as populações urbanas em países como o Brasil têm crescido, nas condições em que essas populações vivem e nos estilos de vida que adquirem. Atualmente o Acre, que já vive uma situação de colapso na rede pública de saúde, com falta de profissionais e leitos de UTI devido ao crescente número de casos da COVID-19, passa a conviver também com um surto de dengue, registrando em média 500 casos por dia, aumentando, assim, a pressão no sistema de saúde”, pontua trecho do relatório.

De acordo com o levantamento, as chuvas e as áreas de alagamento criaram um ambiente propício para um elevado índice de infestação de larvas de aedys, o que sinaliza, diante da baixa capacidade de respostas de combate aos focos pelo setor de endemias, para um aumento acelerado do número de casos de dengue clássico e dengue grave, pois se tem visto infecção concomitante por dengue e COVID em alguns pacientes.

CONFLITO MIGRATÓRIO

O estudo destaca ainda um conflito migratória no Acre. A aglomeração de pessoas vinda de outros países é outra situação preocupante em nosso Estado, pois diariamente mais de 100 imigrantes das mais diversas nacionalidades, em sua maioria haitianos, cubanos e venezuelanos, buscam atravessar a fronteira entre o Acre, tendo o município de Assis Brasil como passagem, e o Peru, tendo o município de Iñapari como chegada. As autoridades peruanas têm impedido a entrada de imigrantes no país e na última terça-feira 16/02, haviam 400 pessoas na ponte da integração que liga o Brasil ao Peru e com perspectiva da chegada de mais imigrantes.

A grande circulação e a estadia de estrangeiros na cidade de Assis Brasil é uma situação muito difícil de ser administrada, sendo uma situação que necessita de atenção, pois, somados ao problema da COVID-19, dengue e imigração desenfreada torna preocupante o cenário, fato que fortalece a necessidade de priorizar o Acre na agenda de imunização contra a doença COVID-19, sob pena de nos próximos meses termos uma importante elevação do número de casos novos e de óbitos por COVID-19, bem como novas mutações do SARS-CORV-2 e originando assim o surgimento de novas variantes, o que pode prejudicar algumas vacinas em uso no Acre, como é o caso da vacina da FIOCRUZ/ AstraZeneca, como já aconteceu na África. “Destacamos ainda que após visitas realizadas por nosso mandato, nos diferentes centros de assistência aos pacientes COVID, tanto da rede pública quanto privada, nota-se um claro estrangulamento, com fadigamento e alguns óbitos do corpo profissional de assistência”, reforça trecho do documento.