Mandetta: Brasil pode ter ‘megaepidemia’ se variante do AM se espalhar pelo país

O Globo

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta alertou para o risco da variante brasileira do novo coronavírus, identificada em Manaus, provocar um agravamento do quadro epidemiologico no Brasil que, na sua avaliação, está “em progressão”. Mandetta também comentou o inquérito contra o atual ministro da pasta, Eduardo Pazuello, no Supremo Tribunal Federal (STF) e avaliou que o presidente Jair Bolsonaro poderá sofrer impeachment pela condução da pandemia da Covid. As declarações foram feitas em entrevista ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura.

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O ex-ministro, que deixou o governo em abril de 2020 após divergências públicas com o Bolsonaro acerca das medidas de prevenção contra a Covid-19, disse que a transferência de pacientes manauaras em razão do colapso hospitalar no Amazonas sem os devidos cuidados poderá fazer com que a variante se espalhe.

— O mundo inteiro está fechando os voos para o Brasil, e o país não só está aberto normalmente, como está retirando pacientes de Manaus e mandando para Goiás, Bahia, outros lugares, sem fazer os bloqueios de biossegurança. Provavelmente vamos plantar essa cepa em todos os territórios da federação, e daqui a 60 dias podemos ter uma megaepidemia — afirmou Mandetta.

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A mutação brasileira, batizada E484, foi identificada no Rio de Janeiro e em variantes em Manaus, como a B.1.1.28, detectada em japoneses que estiveram no Amazonas. Ela altera o RDB, o ponto da proteína S em que o Sars-CoV-2 se liga às células humanas. As mudanças genéticas podem causar o chamado mecanismo de escape, ou seja, quando os anticorpos desenvolvidos contra o Sars-CoV-2, que atacam o RDB, perdem sua especificidade. Esse processo pode influenciar a eficácia de vacinas.

A variante já foi detectada em diferentes países, como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, e em vários estados brasileiros. No Brasil, no entanto, o sequenciamento genético necessário para monitorar mutações do Sars-CoV-2 é um desafio, como mostrou reportagem do GLOBO neste mês.

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Responsabilidade de Pazuello e Bolsonaro

Na entrevista, Mandetta também comparou sua gestão no início da epidemia brasileira com a do atual dirigente da Saúde, Eduardo Pazuello. O ex-ministro afirmou que o presidente Bolsonaro “minou completamente” os esforços de conscientizar a população acerca da necessidade de prevenir o contágio, na ausência de um tratamento comprovadamente eficaz contra a Covid-19, em boa parte alinhado com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Ao mencionar erros da gestão Pazuello, Mandetta avalia que o general da ativa e atual ministro dificilmente escapará de punições no Judiciário.

— Vimos uma intervenção militar burra (no ministério) que culminou nessa burrice, no inquérito no STF, TCU, por conta de todos esses erros. Tomaram medidas não técnicas e pagarão um preço por isso — disse o ex-ministro.

Indagado sobre possíveis implicações para Bolsonaro, Mandetta declarou que o presidente dificilmente superará o passivo da pandemia:

— Acho que ele terá que ser julgado pelos órgãos competentes. Impeachment é no Congresso, (não se sabe) se eles terão maioria para isso, é um processo político. E chegará a hora em que ele terá que se entender com as consequências dos atos dele. Se não (for) pelo Juidiciário, a História reserva para ele um lugar infelizmente nada confortável na luta mundial pela vida. Ele ficou do lado do vírus. Ele fez parte da doença.