Para minimizar crise em Assis Brasil, prefeito Jerry quer“dividir” imigrantes com municípios do Alto Acre

O prefeito de Assis Brasil, Jerry Correia, vai se encontrar nesta sexta-feira, 19, com o secretário nacional de Assistência Social, Miguel Ângelo Gomes, que veio ao Acre para avaliar a situação dos imigrantes que estão divididos entre os que estão alojados nos abrigos da cidade e os que estão acampados no lado brasileiro da Ponte da Integração.

Com a presença de mais de 500 imigrantes de várias nacionalidades, a cidade brasileira está à beira do colapso por não possuir a logística necessária para atender aos estrangeiros, conter as aglomerações e evitar a disseminação da Covid-19, considerando-se que o município já o ponto de maior concentração proporcional da doença em todo o estado.

De acordo com o prefeito, nesta quinta-feira foram servidas mais de 500 refeições aos imigrantes. Ele diz que a situação do município é dramática, pois os estrangeiros de quase 10 nacionalidades diferentes circulam livremente entre a ponte e os abrigos, além de se aglomerarem pelas ruas e praças da cidade sem obedecer às normas sanitárias como o uso de máscaras.

Correia afirmou também que a gestão dos abrigos com tantos estrangeiros de nacionalidade diferente não está sendo fácil. No caso dos africanos, alguns não querem se misturar com outros, numa demonstração de que existe animosidade entre alguns grupos. Para o prefeito, a capacidade de bem atender os estrangeiros se limita à quantidade de cerca de uma centena.

Diante disso, Jerry Correia adiantou que na reunião desta sexta-feira, às 10 horas da manhã, com a comitiva do ministro Miguel Ângelo Gomes, vai exigir que o governo federal assuma a sua responsabilidade com o problema e ofereça, verdadeiramente, a logística necessária para a manutenção dos imigrantes ou os remova para outro local mais adequado.

Entre as hipóteses de medidas que poderão ser tomadas pelo governo federal, o prefeito de Assis Brasil cita a instalação de um acampamento pelo Exército Brasileiro com a estrutura necessária para receber uma grande quantidade de imigrantes da maneira mais digna possível, como aconteceu em Roraima, em 2016, durante a onda imigratória venezuelana.

Outra possibilidade considerada pelo gestor da cidade fronteiriça é a “divisão do peso” gerado pela crise imigratória entre os demais municípios do estado, em especial do Alto Acre. Desta maneira, os municípios de Brasiléia, Xapuri e Epitaciolândia e Xapuri deveriam criar abrigos para acolher grupos de cerca de 100 imigrantes, de acordo com o pensamento de Jerry Correia.

“Nós estamos em uma situação em que não basta mais apenas solidariedade. O problema está localizado em Assis Brasil, mas pertence a todos, a começar pelo governo federal, que é quem deve encontrar um caminho para resolver a situação de maneira definitiva, mas enquanto isso não ocorre, as outras cidades da regional poderiam assumir um pouco desse fardo”, disse.

É importante relembrar que entre 2010 e 2012, pelo menos 7,6 mil cidadãos do Haiti entraram no país pela fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Naquela ocasião, o município de Brasiléia viveu uma situação parecida com a que hoje enfrenta Assis Brasil. E como naquele tempo, hoje também não há perspectiva imediata para o fim da corrente imigratória atual.

Força Nacional

Nesta quinta-feira, 18, o governo brasileiro autorizou o uso das Forças Armadas na fronteira entre Brasil e Peru, onde o número de migrantes estrangeiros aumentou nos últimos dias, em sua maioria haitianos impedidos de entrar no país vizinho devido à pandemia do coronavírus.

De acordo com um decreto do Ministério da Justiça e Segurança Pública, publicado no Diário Oficial da União (DOU), as Forças Nacionais vão apoiar as autarquias locais “nas atividades de bloqueio excepcional e temporário à entrada de estrangeiros no país, de forma episódica e de forma planejada. ”.

A medida, que terá duração de 60 dias, mas pode ser prorrogada, visa ajudar a conter a chegada de imigrantes município fronteiriço, onde pelo menos 500 estrangeiros, a maioria haitianos, mas também cidadãos de países africanos como Serra Leoa, Senegal e Costa do Marfim, que estavam em diferentes regiões do Brasil, estão retidos.

Crise imigratória e Covid-19

O risco da disseminação da Covid-19, num contexto em que uma variante brasileira do vírus, mais contagiosa, se espalhou por várias regiões do país, é mais uma das grandes preocupações da população e das autoridades de Assis Brasil, onde já foi confirmada a infecção de uma imigrante que foi transferida para o Hospital Regional de Brasiléia.

Na última quarta-feira, 17, a Agência Andina de Notícias, do Peru, informou que dez pessoas do grupo de imigrantes que furaram o bloqueio na ponte binacional permaneceram em Iñapari porque, quando foram realizados os testes de descarte do coronavírus, estes apresentaram resultado positivo para Covid-19. Eles foram atendidos em um posto médico local.