Pesquisadores vão testar Ayahuasca no tratamento de depressão

POR NANY DAMASCENO
Amplamente utilizada de forma religiosa no Acre, a Ayahuasca é testada para tratamentos terapêuticos e sua eficácia vai sendo comprovada com diversos estudos. Em 2019, pesquisadores brasileiros conseguiram demonstrar os benefícios da ayahuasca em pacientes com depressão. Os resultados foram publicados no periódico Psychological Medicine, mas os primeiros estudos sobre o uso da bebida foram publicados em 2007, quando ficou comprovado que que uma única dose de ayahuasca tinha efeito ansiolítico e antidepressivo. Os resultados mais promissores são para casos de depressão resistente a medicamentos.

O uso da Ayhuasca ocorre há milhares de anos por dezenas de povos indígenas na Amazônia e há décadas por religiões como a União do Vegetal, Barquinha e Alto Santo, todas bastante difundidas no Acre.

A bebida é preparada com folhas de Chacrona (Psychotria viridis) e o cipó Mariri (Banisteriopsis caapi), duas plantas amazônicas.

A ayahuasca estimula receptores de serotonina chamados 5-HT2A, localizados em regiões do cérebro envolvidas no processamento das emoções, percepções e introspecção.

Os efeitos subjetivos dessas substâncias incluem alterações nas emoções, que podem ir de bem-estar à ansiedade, percepções (maior sensibilidade aos sons e cores, e visões) e cognição (autoconsciência, memória), ao mesmo tempo em que alteram o funcionamento de algumas áreas cerebrais envolvidas em transtornos psiquiátricos, como a depressão, podendo diminuir sintomas.

Ao site UOL, Rafael Guimarães dos Santos, neurocientista da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo), responsável pelas pesquisas explicou que outra substância utilizada no estudo para tratamento de depressão é o anestésico cetamina, único psicodélico já aprovado para uso médico no Brasil e que tem apresentado efeitos antidepressivos quando usado por via endovenosa e intranasal. Na pesquisa, a administração será por via oral. “Nos dois casos [via endovenosa e intranasal] a aplicação é complexa, e existem poucos estudos avaliando o uso da via oral, que é mais fácil e seguro”, observa Santos.