Vereador é investigado por distribuir IVERMECTINA da zona rural do Acre

Por Aline Nascimento

Vereador Denis Araújo anunciou em uma rede social que estava levando ivermectina para moradores da zona rural de Sena Madureira — Foto: Reprodução

Vereador Denis Araújo anunciou em uma rede social que estava levando ivermectina para moradores da zona rural de Sena Madureira — Foto: Reprodução

O vereador de Sena Madureira, interior do Acre, Denis Araújo (PSDB) está sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MP-AC) por distribuir o medicamento ivermectina para moradores do Ramal do Quinze, na BR-364, para o tratamento de Covid-19.

Em julho de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma nota alertando que a ivermectina, medicamento antiparasitário, não tem comprovação científica de eficiência contra a Covid-19, doença causada pelo Sars CoV-2.

Em uma postagem feita em uma rede social no dia 14 de janeiro, o vereador aparece com várias caixas do medicamento com a seguinte legenda:

“Levando medicamentos para tratar nossos irmãos com Covid no interior, uma comunidade inteira afetada. Não é questão de legislar, e sim de humanidade e gratidão.”

A publicação é curtida e vários internautas parabenizam a atitude do vereador. À Rede Amazônica Acre, Araújo explicou que fez uma única viagem para o Ramal do Quinze e distribuiu dois comprimidos para cada morador.

“Eu liguei para eles e soube que estavam doentes. Achavam que estavam [com Covid-19], mas não sabiam e disse que tinham que comunicar alguém da saúde. Como está no inverno, lá fica muito difícil, são 13 quilômetros de lama, então, é complicado para eles e fiquei preocupado que podiam morrer. Passaram uma mensagem, a prefeitura conseguiu fazer os exames, acho que a maioria testou positivo para covid, deixou os medicamentos prescritos no tratamento. Não tinha a ivermectina na prescrição”, justificou.

Distribuição

Mesmo sem confirmação médica da eficácia do remédio, Araújo disse que foi em uma farmácia da cidade e comprou algumas caixas do remédio. Ele afirmou que entregou a medicação apenas aos adultos da comunidade.

“Como estou ajudando muita gente que está com Covid, tem uma outra pessoa que está em tratamento e passaram esse remédio. Depois de dois dias me ligaram agradecendo. Eu já tomei, só levei dois comprimidos para cada. De qualquer forma, se não serviu para a Covid, é um remédio para verme que não vem a fazer mal”, argumentou.

Sobre o risco de o remédio fazer mal para algum paciente, o vereador afirmou que não ficou preocupado. “Todo mundo que conheço tomou e ninguém nunca reclamou. Minha intenção foi ajudar, jamais imaginava [que iria fazer mal]. Soube que o Ministério Público vai investigar, mas não fui lá ainda, estou aguardando ser chamado”, pontuou.

Investigação

O promotor de Justiça da Comarca de Sena Madureira, Thalles Ferreira, explicou que chegou ao conhecimento do MP-AC a ação do vereador na comunidade e, com essas informações, instaurou um procedimento na Promotoria de Justiça Cível e Criminal para investigar a conduta.

“Como sabido, não existe um tratamento terapêutico comprovado cientificamente destinado à Covid-19. Assim sendo, foi instaurado um procedimento tanto na Promotoria de Justiça Cível quanto na Promotoria Criminal para investigar a conduta do vereador. No âmbito cível, vai ser apurado se o vereador praticou ato de improbidade administrativa. No aspecto criminal, verifica-se possível prática em tese de crime, fato que será investigado”, esclareceu.

Covid-19 no Acre

O boletim da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) trouxe nesta segunda-feira (25) a confirmação de mais 110 novos casos de infecção pelo novo coronavírus. Mais quatro mortes também foram confirmadas. Dessa forma, o número de casos saiu de 46.429 para 46.539 e o de mortes subiu para 854 em todo o estado.

O número de exames de RT-PCR à espera de análise pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Acre (Lacen) ou pelo do Centro de Infectologia Charles Mérieux continua alto, são 1.241. Na última semana, o principal laboratório do Acre chegou a parar as atividades por falta de insumos, mas a direção da unidade disse que a situação havia sido resolvida junto à Sesacre.

Pelo menos 39.335 pessoas já receberam alta médica da doença, enquanto 166 pessoas seguem internadas.

Colaborou Dayane Leite, da Rede Amazônica Acre.